terça-feira, 10 de junho de 2008

Um verso!

Maldita mania de fazer poesias. Não sou poeta, mas os versos não me abandonam. Parece que todas as musas desprezadas e solitárias me procuram.
Um dia desses, voltando eu do trabalho, depois de um dia como outro qualquer (leia-se: monótono e cansativo), um verso perdido decidiu que iria me perseguir. Aos seus primeiros chamados fingi que não era comigo, pensando que ele desistiria ou escolheria outra pessoa mais simpática que eu. Foi inútil. Porque, entre tantas pessoas foi escolher a mim? Provavelmente os admiradores de poesia possuem uma aura diferente, fácil de identificar. Acelerei o passo, em vão. Era o verso mais rápido que já vi.
Se parava nas esquinas ele me alcançava e se exibia na minha frente, mas não se mostrava por completo, era um verso misterioso pedindo pra ser decifrado. Era como se ele citasse Drummond, dizendo: - ‘Trouxeste a chave?’
Não havendo mais nada que eu pudesse fazer, abri minha mente e deixei que ele entrasse. Foi uma idiotice. Estando um verso na cabeça ele te tortura até que seja passado para o papel. Tivesse ao menos uma caneta escrevê-lo-ia na mão. Era preciso chegar logo em casa. Andei o mais rápido que pude, em alguns momentos corria. Se algum conhecido me perguntava -“Pra quê tanta pressa?”
“Um verso! Um verso!” – Respondia eu apavorado e quase sem fôlego. Creio que foi nesse dia que surgiu o boato de que eu enlouquecera.
Cheguei em casa finalmente, na pressa para abrir a porta deixei a chave cair, peguei-a de volta murmurando algum palavrão. Entrei, sequer acendi as luzes ou abri as janelas, tropecei na minha gata que dormia estirada no chão da sala, corri até meu quarto, peguei o meu caderno e um lápis e pude livrar-me do infeliz.


“Ah, verso! Aí está enfim!
Escrevo-o depois leio.
Em verdade não é feio,
E nem é tão belo assim.”

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