domingo, 15 de junho de 2008

O Poeta Que Não Sou

Você pode não saber,
Mas o dia chegará,
E a vida vai se estender
Logo então entenderá.

No meio dessa confusão
Nada mais me afeta,
Em meio uma depressão
Eu me atrevo a ser poeta!

Mas, ora meu Deus do céu!
Quem dera um poeta eu ser
E transportar para o papel
A minha alma ao escrever!

Cemitério de Flores

Foi só um sonho...
Não... Pesadelo, sim!
Eu esquartejava você
E enterrava no jardim
Meu jardim, cemitério de flores.
Você parecia parte de mim,
A cada pedaço eu sentia as dores.

Continuava assim essa tarefa insana:
Seu sangue escorria, tornava-se lama.
Estranha tortura que nunca acabava
Cada pedaço seu se multiplicava.
Tentava fugir e você me seguia,
Levava nos braços sua cabeça que sorria
Sua voz calma me chamava de suicida,
Acordei e entendi: Você é minha vida!

Ano Novo

Mais um ano que se passa,
Para a morte mais um passo.
De uma vida tão sem graça
Mais um pouco afrouxa o laço.

Pra quê a ilusão de criança
De que a vida é uma festa?
Trago ainda um fio de esperança
Para seguir na vida que me resta.

Não admire o teor da poesia,
Não, meu amigo, não é depressão.
Talvez um pouco de melancolia,
Pois esta é filha da solidão.

Noite Sem Lua

Noite, abençoada seja tua escuridão,
Que maravilha e também amedronta,
Poderia comparar a ti meu coração,
Mas a lua nele nunca que desponta.

Se essa energia que me atrai, e é tua,
Atraísse também certa alma feminina,
Que tem no peito o mesmo brilho da lua
Dissiparia a escuridão que me domina.

Simão Bacamarte e a Ciência

(Baseado no conto “O alienista”, de Machado de Assis).

Simão Bacamarte tinha razão.
Sábio alienista, será louco quem é são?
Tênue linha entre sanidade e loucura.
Mas a ciência é clara... (ou será que é escura?)

Concluí que não sou louco, pois sou normal.
Ou seria a normalidade uma loucura cabal?
Admirável sabedoria grande Simão!
A luz da vida é a ciência... (ou será a escuridão?)

Quem virá?

Essa angústia indefinida a quase me enlouquecer,
Uma falta que eu sinto de não sei bem o quê,
Vendo-os em desespero, buscando salvação,
Esperando por milagres impossíveis à razão.

Esse medo de viver, do navio afundar,
Eis um marinheiro que nunca viu o mar.
Às vezes eu me perco e ao tempo que passou
Desde aquele dia em que a vida começou.

Essa solidão covarde que tanto me abate,
Eis um guerreiro armado fugindo do combate.
Desse caminho estreito quando chega o fim?
E quando eu lá chegar, quem virá a mim?

Esse mundo é tão estranho (ou quem sabe seja eu),
A angústia antes dita talvez já me enlouqueceu.
Eu não odeio o mundo, nem tenho medo de viver,
Não se ocupe com o que digo, nem tente me entender.

Sem rumo

Dói olhar nos seus olhos e não ver o brilho de antes.
A expressão do seu sorriso já não é contagiante.
È difícil olhar para trás e encarar nossos enganos,
E o quanto é confuso e infantil o ser humano.
Perplexos diante de ilusões que nos confundem,
Deslumbrados diante de confusões que nos iludem.
Intermediando loucuras e sanidades,
Perdidos entre mentiras e verdades,
Buscando um ponto de luz em meio à escuridão,
Que sirva de guia, não para os olhos, para o coração.

Orgulhoso Silêncio

No silêncio desse quarto
O passar do tempo faz barulho.
Escuridão: me escondo, me guardo.
A questão: solidão ou orgulho?

Passam dias, alguns meses.
Porém as coisas não mudam.
Palavras escritas, às vezes,
De certa forma me ajudam.

Até sei que estou errado,
E peço a Deus que me ajude.
Como pode assim, calado,
O silêncio ser tão rude?

A Verdade segundo um mentiroso

Chamam-me de louco
Mas não conhecem a sanidade.
Pensam saber tudo
Mas não sabem a metade.

Posso até ser louco,
Se isto é não ser igual.
Você é mais estranha
E pensa que é normal.

Sua ignorância não me assusta,
Espantar-me-ia o contrário.
Não tenho a verdade absoluta
E talvez nem seja necessário.

Acredita mesmo que é feliz?
É relativa a felicidade.
Não tem certeza do que diz
E acredita ser verdade.

À Morte

Brindemos à morte. Sim!
Àquela que nos trará a verdade.
Viva a Morte, o fim!
Que virá cedo ou tarde.

Morte, para uns, triste figura,
Esta mesma Surda-muda
Para mim incrível criatura
Bela, justa e pura.

Saudemos a Morte!
Admirável companheira.
Dentre tantos a mais forte.
Nossa amiga derradeira!

Nada ao nosso gosto

As palavras me fogem, então me diga alguma coisa.
Pelo menos um motivo de nossa vida ser tão tola.

Quando o bom da vida é não ter mais que viver
Deixar tudo de lado e por um tempo não sofrer.
Quando a alegria se resume a umas doses de conhaque
E rimos da nossa vida e nos sentimos tão covardes.

No espelho a tristeza ao invés do nosso rosto,
Num mundo tão imenso não há nada ao nosso gosto.

Dúvida

Diga - me com sinceridade,
(Não sou tão louco assim)
Eu caminho sobre a cidade
Ou ela caminha sob mim?

Alguém apague o sol

Apague esse sol infernal
Que ilumina essa rua
Cheia de pessoas vazias.
Dia após dia, um dia igual.
Meu coração quente sua
Lembrando de uma alma fria.

Boas Festas!

Mais um ano, nada de especial.
È hora das falsas simpatias,
Afinal de contas, é Natal
E ninguém se lembra do Messias.

As pessoas se amam por um dia
E podem se odiar por mais um ano.
Recebi um cartão, quem diria!
Esperem... Deram-me por engano.

Então leio o que está escrito
As frases não são inéditas,
Nenhuma menção a Cristo,
E encerrando: “Boas Festas”.

Tudo que vejo

È como se toda tristeza do mundo estivesse
em minha alma ,
Com o fardo pesado da solidão colocado
Nos meus ombros.
E eu tento manter a calma
Diante de tantos tormentos e assombros.

Eu lamento, choro, sinto;
Em vão.
Eu tento, luto, insisto;
E não
Vejo nada a não ser o seu semblante,
Seu rosto é tudo que vejo.
E sinto, um imenso desejo
De ter você perto nesse instante.

Coisas da vida

Ah, vida! Com suas idas e vindas!
(Talvez sejam as minhas)
As vezes um desejo profundo de que se acabe.
Ah! Besteiras indesculpáveis!
Que mérito em sair como covarde?
Que glórias teria um guerreiro
Que se afasta da batalha por medo?
Compreenderia a história, o leitor
Que salta metade do romance?
(Pois a vida nada mais é que um livro,
Às vezes trágico, ás vezes cômico.
Poucas vezes alegre...)
Ah, vida; Desânimo sem sentido me abate!
Mas não desisto, te enfrento!
(É vida, tu te cansarás, mas não eu.)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Cinza Vida

O dia é imenso...
Abro a janela;
Não há sol. Ele
Parece compartilhar
Da minha tristeza.
O céu é cinza.
Nuvens carregadas
Amontoam-se sobre mim.
Mas não chove.
Tento fazer algo
Pro tempo passar.
Preencho linhas.
Tento preencher
Minha vida.
Não consigo...
O dia é imenso,
Mas sempre termina.
E ,quem sabe,
Amanhã o sol
Apareça pra iluminar
O dia, e talvez,
(Por que não?)
A minha vida.

Um verso!

Maldita mania de fazer poesias. Não sou poeta, mas os versos não me abandonam. Parece que todas as musas desprezadas e solitárias me procuram.
Um dia desses, voltando eu do trabalho, depois de um dia como outro qualquer (leia-se: monótono e cansativo), um verso perdido decidiu que iria me perseguir. Aos seus primeiros chamados fingi que não era comigo, pensando que ele desistiria ou escolheria outra pessoa mais simpática que eu. Foi inútil. Porque, entre tantas pessoas foi escolher a mim? Provavelmente os admiradores de poesia possuem uma aura diferente, fácil de identificar. Acelerei o passo, em vão. Era o verso mais rápido que já vi.
Se parava nas esquinas ele me alcançava e se exibia na minha frente, mas não se mostrava por completo, era um verso misterioso pedindo pra ser decifrado. Era como se ele citasse Drummond, dizendo: - ‘Trouxeste a chave?’
Não havendo mais nada que eu pudesse fazer, abri minha mente e deixei que ele entrasse. Foi uma idiotice. Estando um verso na cabeça ele te tortura até que seja passado para o papel. Tivesse ao menos uma caneta escrevê-lo-ia na mão. Era preciso chegar logo em casa. Andei o mais rápido que pude, em alguns momentos corria. Se algum conhecido me perguntava -“Pra quê tanta pressa?”
“Um verso! Um verso!” – Respondia eu apavorado e quase sem fôlego. Creio que foi nesse dia que surgiu o boato de que eu enlouquecera.
Cheguei em casa finalmente, na pressa para abrir a porta deixei a chave cair, peguei-a de volta murmurando algum palavrão. Entrei, sequer acendi as luzes ou abri as janelas, tropecei na minha gata que dormia estirada no chão da sala, corri até meu quarto, peguei o meu caderno e um lápis e pude livrar-me do infeliz.


“Ah, verso! Aí está enfim!
Escrevo-o depois leio.
Em verdade não é feio,
E nem é tão belo assim.”