segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A Estrada

Encontrei um velho sentado em uma pedra na beira da estrada, debaixo de uma árvore enorme e carregada de frutos, os quais eu desconhecia.
Ele dedilhava um violão e cantava uma música. Não me lembro o que dizia essa música, mas ela transmitia paz e uma energia extremamente tranqüilizante. Aproveitei para descansar enquanto ouvia-o cantar. Não sei quanto tempo ele ficou cantando, acho até que dormi por algumas horas...
Ali, mais próximo, pude perceber que ele não era velho, a barba e o cabelo lhe cobriam quaisquer feições , mas seus olhos irradiavam juventude e sua voz era muito suave.
_Você estava muito cansado. Dormiu por um bom tempo. –disse ele.
_É, eu estava exausto. –respondi-lhe. – Parece que estou caminhando nessa estrada há anos. Estrada estranha. Em alguns trechos faz um tempo agradável, durante o dia um sol maravilhoso, mas não muito quente, brilha, o céu é azul e há muitos pássaros. A noite é fresca, uma lua enorme ilumina o céu estrelado. Mas em alguns trechos é horrível. Ora ela se transforma num deserto com um calor infernal, ora cai uma tempestade assustadora. Atravessei zonas de guerra, com barulho de metralhadoras e pessoas morrendo por todo lado. Não tenho vontade de continuar. Acho que vou parar por aqui.
_Acho que você devia continuar. –disse ele.
_Você fica aqui na sombra comendo os frutos dessa árvore e tocando esse violão, não sabe o quanto é difícil.
_Acredite, eu sei. Percorri essa estrada diversas vezes. –disse ele enquanto afinava desnecessariamente o violão.
_Se já chegou ao fim, então o que faz aqui?
_Toco meu violão para os que passam como você.
_Sendo assim, você sabe quanto tempo eu levarei para chegar ao fim?
_Em alguns pontos há bifurcações. Depende de qual caminho irá tomar.
_Mas como saberei qual é o certo?
_Não há como saber. Mas todos dão no mesmo lugar. Alguns são mais longos, mais difíceis. Seu coração lhe dirá qual é o melhor pra você.
_Mas pra onde esses caminhos levam?
_Pra onde você quer ir?
_Não sei pra onde quero ir.
_Então eles não te levarão a lugar algum.
_Como descobrirei pra onde quero ir?
_Descobrindo onde está seu coração. E é melhor ir andando. Você já descansou o bastante.
_Tem razão. A propósito, você toca muito bem.
Ele sorriu.Continuei andando. Sentia-me outra pessoa, forte, otimista. Após alguns metros olhei para trás. O homem não estava lá. Não havia sequer árvore. Mas a música recomeçou...
Acordei e, pela primeira vez, tive vontade de continuar vivendo.

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